Nina Hagen: a alemã que largou o punk, entrou no gospel e voltou ao cabaré

Se quase ninguém conhecia nem tinha ouvido uma música sequer de Nina Hagen naquele distante 1985, o Rock In Rio deu um jeito nisso. A cantora alemã levou o público à loucura em suas duas apresentações. A potência vocal de mezzo-soprano, aliada à sonoridade eclética de sua banda e a um visual excêntrico — cabelão rosa, maquiagem colorida e um figurino que incluía um maiô de couro preto — marcou definitivamente aquela primeira edição do festival. Nas entrevistas à televisão brasileira, se deixou “explorar” e abusou do lado histriônico/maluquete.

Além do sucesso no palco do Rock In Rio, onde um dos pontos altos foi uma versão apimentada de “My Way”, de Frank Sinatra, Nina participou de uma gravação com a Banda Tokyo, de Supla — com quem teve um rápido namoro. “Garota de Berlim”, do disco “Humanos”, foi uma das músicas mais tocadas nas rádios brasileiras nos dois anos seguintes.

Catharina “Nina” Hagen nasceu em Berlim Oriental no dia 11 de março de 1955. Sua mãe, Eva Maria Hagen, era atriz e seu padrasto era o poeta, compositor e dissidente Wolf Biermann. Com 17 anos, Nina começava a ser conhecida por sua voz marcante nas bandas Automobil e Fritzens Dampferband. Em 1974, foi escolhida como a melhor cantora jovem da RDA e dois anos depois atravessou o muro de Berlim devido a problemas políticos de seu padrasto, que também era músico.

Em 1978 lançou seu primeiro álbum, “Nina Hagen Band”, com 10 das 11 faixas de sua autoria. O jeito punk, seus textos diretos e agressivos, bem como a sua voz marcante – é uma das pioneiras na adição de elementos líricos ao rock, sendo que aos 13 anos já era considerada uma revelação da ópera – são as marcas mais fortes de sua carreira de mais de 40 anos.

Cristianismo

Em 2009 ela se converteu ao protestantismo e, no ano seguinte, surpreendeu com um novo estilo: gospel. No álbum “Personal Jesus”, ela cantava salmos e preces em canções como “Take Jesus With you”, “Just A little Talk With Jesus” e a versão do clássico de Depeche Mode que dá nome ao disco. Seu último disco, “Volksbeat”, de 2011, seguiu a mesma linha, mas também com mensagens fortes condenando guerras, forças nucleares e defendendo os direitos civis.

O regresso

A artista é vegetariana e uma das figuras mais representativas da organização de defesa dos animais PETA. Seu engajamento social é tão forte que chegou até aos campos de futebol. Ela foi uma das pessoas que contribuíram nas campanhas para ajudar o Union Berlin, inclusive gravando o hino do time. O clube fundado em 1906 tem uma história ligada à classe trabalhadora e ao combate ao autoritarismo. Em 2019 finalmente chegou à primeira divisão do futebol alemão.

Em outubro do ano passado, uma grande exposição foi inaugurada no Museu do Teatro de Hannover em homenagem a Nina Hagen, que completa 65 anos em março. São cerca de 460 objetos organizados pelo fã Arne Buhrdorf, podem ser vistos até domingo. Apaixonado pela artista, o alemão tem uma coleção que inclui mais de 3 mil objetos: fotos, pôsteres, recortes de jornais, roupas, capas de revistas, artigos de fãs como lenços, travesseiros e até um jogo de cartas. A exposição tem muitos vídeos e áudios, como trechos do filme “Nina Hagen — Madrinha do Punk”, de 2011.

Se no Brasil ela não deu mais as caras, na Europa, Nina não para de trabalhar. Ano passado participou do badalado festival Jazz Days Dresden e atualmente está em turnê com um espetáculo com textos e canções do dramaturgo e poeta alemão Bertold Brecht (1898-1956). O programa também inclui composições próprias de Nina para poemas de Goethe (1749-1832) e da dramaturga e poeta Else Lasker-Schüler (1869-1945), além de músicas de Bob Dylan, Leonard Cohen (1934-2016) e Wolf Biermann. “Este é um apelo apaixonado pela atualidade, a verdade, a urgência e a singularidade das mensagens de paz em muitas das músicas e letras retiradas de várias peças de Bertolt Brecht “, define Nina, que na adolescência, na Alemanha Oriental, foi integrante de um grupo clandestino de cabaré chamado Die Knoblauchraspel (Os Espremedores de Alho). Como boa “garota de Berlim”, ela rodou, rodou e acabou de volta ao cabaré.

Fonte: Reverb

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Melqui Oliveira

Colunista

Missionário, publicitário, artista plástico e ex-baterista. Manager da Rhythm Rock Store, Sete Merch, Missões Aclive e Senhor Cabide. Co-produtor da revista Templo Metal Pocket e colaborador no portal templometal.com. Colaborador do Palco Gospel Bahia e produtor do Porão das Tribos. Nesses últimos anos pude ver a apresentação do Mike Portnoy com o Dream Theater na formação de 1999. 

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