Entrevista com Osvayr Agreste, fundador da banda Exodos

‘Nós do Templo Metal priorizamos bandas com visão missionária, que de fato faz o som com o objetivo de resgatar e plantar o evangelho de Cristo. Vamos fazer um bate-papo inbox especial com o primeiro nome a fazer rock cristão no Brasil. Osvayr Agreste, um dos fundadores da banda Exodos.

Em primeiro lugar é gratificante pra nós que fazemos parte do cenário do rock cristão conhecer alguns integrantes da banda Exodos e poder parabenizar por esse caminho musical que foi aberto. Nos conta qual a emoção de estar vivenciando um Jubileu de Ouro, 50 anos de uma história que marcou a música cristã brasileira.

Somos gratos a Deus por usar pecadores como nós para anunciar através da música essa boa notícia que é o evangelho. O mundo passa por transformações o tempo todo e vemos isso também na música cristã. Vejo que tudo mudou. A forma de se expressar, relacionar, viver, orar, pregar, testemunhar, a introdução de novos instrumentos, a técnica vocal e instrumental. Muralhas foram derrubadas, preconceitos e tabus foram jogados pelo chão. Um povo livre adora ao Rei dos Reis e Senhor dos
Senhores.

A gente sabe que os anos 70, além de ter um regime militar governando o país, as bandas também tinham que enfrentar a resistência da igreja. Bandas como Vencedores por Cristo tocavam nas praças acompanhada por policiais do regime, a contracultura sempre foi algo temido pelos padrões conservadores. Como a banda Exodos enfrentou tudo isso em pleno início dos anos 70?

Vimos muitos colegas jovens entrarem no consumo de drogas e nunca mais saírem vivos dali. A necessidade de falar sobre Jesus era maior do que os preconceitos da igreja e o regime militar. Crescemos na periferia de São Paulo, em Pirituba, e as drogas estavam no trabalho, no colégio, nas ruas… Havia necessidade de anunciar rapidamente que havia outra saída. Como anunciar? Precisava mudar tudo. Então Deus viu em nosso coração o desejo sincero e verdadeiro de anunciar as boas novas de salvação e nos capacitou.

Agora anos 2000 ainda vemos casos de bandas e pessoas serem expulsas de igrejas por não estarem no mesmo padrão doutrinário. Como era tocar em um ambiente totalmente recheado de músicas congregacionais? Vocês já foram expulsos de algum evento?

Fomos expulsos da Igreja, de eventos não. Muitas vezes fomos impedidos de tocar na igreja porque falavam que o templo seria profanado, que o Rock é do diabo, se quiserem toquem no salão de festas. Mesmo na igreja em que participávamos, ao iniciar as músicas, algumas pessoas levantavam de seus lugares e saiam do culto. Isso nunca nos abateu.

No início dos anos 70, o Jesus Movement ganhava força nos EUA, inspirando grupos brasileiros a exemplo do Coral Jovem de São Paulo, que através do maestro americano Roger Cole criou um movimento para eclesiástico no Brasil, talvez um embrião para muitas bandas. Qual era a relação do Exodos com movimentos evangelísticos, existia algum conjunto na época como referência?

Infelizmente na música cristã brasileira não havia bandas de rock que pudéssemos ter como referência. Gostávamos de ouvir os grandes luzeiros do rock internacional e nacional. Essa foi nossa identificação. Sempre fomos uma banda de frente evangelística. Fizemos apresentações em escolas, teatros, TV, quadras esportivas, festivais, tocamos até em carroceria de caminhão. Onde houvesse convite lá estávamos presentes. Não importava a denominação, se era tradicional, pentecostal, se era algo ecumênico ou não, se tinha que pagar ou receber. Participávamos desde semana de oração na ACM até programa de curiosidades da Clarice Amaral na TV. Nossas composições foram resultado do nosso dia a dia. Clamando por salvação fizemos por ocasião do incêndio do Joelma, Galhos Secos e Fim da Viagem pela perda de amigos com drogas.

Em poucas palavras, nos conte como foi a criação da música “Galhos Secos”, que é referência não só no rock, mas em toda a esfera musical cristã.

Foi a primeira música que fizemos. Fala do grande valor que temos para Deus. Fala de transformação, inclusão, recomeço e cuidado que Ele dispensa a cada um de nós. Nossas musicas sempre foram resultados de nosso dia a dia com Deus.

Ainda na década de 70 a banda Exodos ganhou destaque na mídia chegando a sair na revista Veja. Como foi essa repercussão no meio cristão em ver uma banda de rock na mídia, um escândalo?

Na primeira reportagem o tema foi ecumenismo na semana de oração promovida pela ACM, enfatizando nossa presença como uma banda diferenciada pelo estilo de música “Rock”, letras e maneira de se vestir. Na segunda reportagem foi abordada nossa exclusão da igreja motivada pelo preconceito quanto ao estilo musical.

Em 1976, muitos artistas cristãos já embutiam faixas dos álbuns no estilo rock, no mesmo ano a banda Exodos se despedia. O porque do fim da banda no ano de 1976?

Quando fomos excluídos da igreja não encontramos apoio no meio evangélico e decidimos parar.

Após o fim da banda Exodos, o Osvayr Agreste ingressou a banda Som Maior, inclusive gravando a faixa “Galhos Secos”. Dá continuidade na música sempre foi um sonho?

Isso foi dez anos após em outra proposta bem diferente da Banda Exodos. Alguns componentes do Som Maior que vivenciaram a Banda Exodos quiseram gravar essa música.

Segundo uma pesquisa feita por holandeses, o lema “sexo, drogas e rock’n roll” ainda faz parte da cultura dos jovens. Nos conte como o trabalho da banda foi eficientes no combate e freio deste lema.

Desconhecemos essa pesquisa mas convivemos com esse clichê e com o “Paz e Amor” que na época também era muito usual.

Atualmente a gente ve bandas de rock gospel disputando premiações de alto nível, mas as vezes as músicas são vazias de Bíblia. Você acha que priorizar a busca pela qualidade musical é mais importante ou as bandas precisam ter um equilíbrio tanto musical quanto na mensagem a ser passada?

Os tempos mudaram. Em nossa época não havia esse glamour com a música Cristã. O movimento Gospel estava iniciando nos USA e nosso foco era de evangelismo. Hoje existem Bandas com diversas propostas como evangelização, adoração, shows, e em nossa opinião isso é muito bom. São vários estilos levando a mensagem de salvação.

Atualmente vivemos um ambiente de apostasia. Bandas ditas cristãs que se escondem por trás do rock e não querem pregar o evangelho por ser um clichê, criando um discurso que, falar de Cristo de forma objetiva afasta as pessoas e dificulta a aceitação do público, sem contar o paralelo ao mercado secular. Qual sua opinião a respeito da evasão missionária na música cristã?

Bandas que não querem pregar o evangelho infelizmente não podem ser consideradas evangélicas ou gospel. Que toquem para entretenimento e sejam felizes.

Em 2006 a banda fez uma gravação profissional, reunindo a banda após 30 anos, nos estúdios MK Music. Como foi esse convite?

Fomos incentivados pelo amigo Salvador de Sousa, autor do livro “História da Música Evangélica no Brasil”, então procuramos a MK Music e fizemos o CD.

A música “Galhos Secos” a cada década ganha uma nova repercussão. Logo no início, a explosão com o Som Maior e depois o Catedral, atualmente também viralizou nas redes sociais com o “Para Nossa Alegria” de Jefferson e Suellen e também uma versão em inglês do grupo Som Maior. Valeu a pena fazer uma faixa rica que realmente fez a diferença na vida das pessoas?

Com certeza, fomos escolhidos por Deus para esse mover do Espírito no meio dos jovens e sem dúvida alguma valeu a pena.

Você hoje tem o sentimento de dever cumprido?

Sim, tínhamos um objetivo que era trazer de volta os jovens que saíam das Igrejas por não terem oportunidade e espaço para louvar a Deus com liberdade de expressão e também jovens não crentes. Dever cumprido, pois a maioria desses jovens aceitaram nosso estilo e muitas vidas foram transformadas através do louvor, principalmente jovens não crentes que encontravam no Exodos a verdadeira paz em Jesus Cristo.

O que você ainda sonha com a música cristã nacional?

Com a evolução tecnológica, internet, redes e plataformas sociais, dá para sonhar muito, temos tudo para transformar e impactar a música cristã nacional e Deus ainda realiza sonhos.

Pra finalizar nosso papo, deixe suas considerações finais. Deus abençoe.

Permita que o Espírito Santo encha sua vida com sonhos que vêm do céu; Faça aquilo que Deus colocar em seu coração mesmo que para isso tenha de romper barreiras e preconceitos. Ofereça o melhor para Ele, não fique preso à vontade de certas pessoas, costumes e tradições. Expulse a incredulidade e dê espaço amplo para a fé agir na sua vida. Consinta que o seu coração seja inundado com novos pensamentos e desejos de consagrar-se com mais fervor ao Senhor, mesmo diante das adversidades. A indicação certa para a restauração de nossa vida está em Jesus.

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Melqui Oliveira

Colunista

Missionário, publicitário, artista plástico e ex-baterista. Manager da Rhythm Rock Store, Sete Merch, Missões Aclive e Senhor Cabide. Co-produtor da revista Templo Metal Pocket e colaborador no portal templometal.com. Colaborador do Palco Gospel Bahia e produtor do Porão das Tribos. Nesses últimos anos pude ver a apresentação do Mike Portnoy com o Dream Theater na formação de 1999. 

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