Matéria de destaque na página do Jornal Extra em 2012.
Há quem goste, há quem odeie. Mas é difícil achar quem não tenha ouvido o verso “Para nossa alegria” cantado de forma desafinada no vídeo que se tornou fenômeno nas redes sociais nas últimas semanas, seja no vídeo original (apenas um dos arquivos postados no YouTube já tem mais de 11 milhões de visualizações), seja nas inúmeras paródias que surgiram de lá para cá. O fato é que Jefferson, Suellen e Mara popularizaram, sem querer, a música “Galhos secos”, da banda Exodos, que inovou ao tocar rock cristão entre os anos 1970 e 1977. E a enorme repercussão, ainda que inesperada, agradou aos criadores da obra.
— Achei bom, né? Essa música só é conhecida no meio evangélico. Achei o vídeo muito divertido e espontâneo — conta Osvayr Agreste, de 55 anos, um dos autores da canção, ao lado do irmão Osny, já falecido.
Já o ex-baterista Edson Donizetti, de 58 anos, chegou a ficar receoso com o contexto inusitado da música.
— Não tem como não achar engraçado. No início, fiquei um pouco preocupado com a repercussão, mas vi que o vídeo tinha comentários muito positivos, e muitas pessoas passaram a conhecer a banda. Depois de 40 anos, acaba caindo no esquecimento. Na época não tinha tanta mídia como tem hoje — conta o ex-baterista, que hoje é engenheiro aposentado e professor, que também vê outro ponto positivo na exposição: — A maioria das pessoas que estão acessando o vídeo acabam ouvindo uma mensagem.
A mensagem, segundo Osvayr, era um recado para os jovens de que havia outro caminho além das drogas. Acontece que o som daqueles meninos da periferia de São Paulo, que tinham entre 13 e 16 anos e se inspiravam em bandas como Pink Floyd e Deep Purple, atraía para a igreja muitos jovens, mas também gerava reclamações. Até chegar o dia em que eles foram “convidados” a parar de tocar.
— Não permitiam que a gente tocasse dentro da igreja, diziam que ia profanar o templo, então a gente tocava no salão. Tinha essas coisas malucas, né? E a vizinhança não gostava muito. Iam nos ver pessoas viciadas, cabeludas, que se vestiam com roupas chamativas. A gente tocava rock’n’roll, que era visto como coisa do demônio. Até que o pastor pediu, por determinação do conselho da igreja, que a gente parasse de tocar. E a gente obedeceu. Não estávamos lá para fazer um movimento revolucionário, só queríamos apresentar um Jesus diferente para os jovens — lembra ele, explicando que o episódio desmotivou a banda a tentar um retorno.
Edson, que mantém um site sobre a banda, diz que recebia uma média de cinco emails por semana. Agora, são quase três mil mensagens em sua caixa de entrada.
— Tem gente querendo saber sobre a história da banda, onde estão os integrantes, o que nós achamos do vídeo, se nós queremos voltar. Imagina, já estamos com quase 60 anos, uma banda precisa de tempo, de estrutura — afirma.
Embora “Galhos secos” já tenha ganhado diversas regravações de vários artistas gospel nessas quatro décadas, o grupo, com mais de 50 músicas compostas, nunca chegou a gravar um disco, por falta de dinheiro. Só em 2006, o quarteto (que inclui ainda Calu, que hoje tem uma pousada em Ubatuba) se reuniu para registrar essa história num CD caseiro, que nunca rendeu dinheiro para os seus integrantes.
— Mas sou mais bilionário que o Bill Gates e o Eike Batista. Uma vida vale mais que o mundo inteiro. Essa música resgatou muita gente — diz Osvayr.
Fonte: Extra / Globo