Vamos iniciar uma série de matérias em comemoração ao jubileu de ouro do Rock Cristão no Brasil. Sim, o Rock Cristão nacional completará 50 anos desde a sua primeira aparição na década de 70. Não poderiamos esquecer os pioneiros e todos aqueles que utilizaram o rock como ferramenta para levar as boas novas ao nosso país. Estaremos trazendo a lembrança: bandas, igrejas, movimentos, integrantes, pessoas que morreram, músicos e músicas que agregaram o rock cristão brasileiro. Abaixo, segue uma breve narrativa de como tudo começou, a partir de 1970.
De fato, todas estas transformações teóricas e conceituais, no campo da história, possibilitam analisar a historicidade da música evangélica no Brasil e, especificamente, o gênero “rock gospel”, popularmente chamado de rock cristão. Sob este prisma, cabe-se descrever que o rock é um dos gêneros musicais mais populares do mundo. O rock surgiu na década de 40 e durante muito tempo teve o estigma da rebeldia, da associação com as drogas e, para muitos religiosos, uma representação de música demoníaca. Porém, os tempos mudaram e hoje o rock se configura como uma música incorporada de técnica, de criticidade, de conteúdo, como um elemento que agrega valor cultural, social, político e espiritual. Mesmo nas igrejas, o rock é um ritmo muito utilizado contemporaneamente, pois, embora não declarados, muitos cantores utilizam o rock em seus trabalhos musicais. Mas, há algumas décadas, não era assim. A igreja era muito fechada e realmente o rock era tido como “música do diabo”. Para romper a barreira do preconceito, que ainda existe, foram necessárias várias décadas e trabalho árduo de muitos músicos, cristãos e roqueiros interessados em expressar sua fé através do gênero. Em especial o pioneirismo e o protagonismo da banda evangélica Êxodos, no tocante ao gênero musical rock gospel no Brasil.
Se há um ritmo que tem provocado polêmicas desde sua entrada na música evangélica brasileira, esse ritmo é o rock. Inúmeras congregações, líderes e membros, até hoje, vêem o rock como algo inaceitável na igreja. Os pioneiros no meio evangélico sofreram bastante preconceito e até boicotes. Mas o fato é que, apesar da perseguição, o rock ganhou ao longo do tempo o seu espaço entre os evangélicos, tornando-se um dos estilos prediletos entre os jovens e alcançando vendagens expressivas por meio de algumas bandas e cantores. Além disso, as bandas de rock evangélico conquistaram espaços para shows antes reservados somente a artistas e bandas no meio secular. Quanto à gênese do rock evangélico no Brasil, Salvador de Sousa descreve que: O rock nasceu oficialmente em 1954 nos EUA com o cantor Bill Haley. Embora houvesse cantores e bandas brasileiras no meio secular, tocando rock desde o final dos anos 50, não tive nenhuma prova concreta de que havia alguma expressão de rock evangélico nos anos 50 e 60 no Brasil. Havia dezenas de cantores e grupos evangélicos em atividade, até mesmo com proposta musical jovem, porém, não chegaram a gravar rock. Então, ao que parece, o rock só chegou à musica evangélica brasileira a partir de 1970.
É importante salientar que o rock setentista evangélico é bem diferente do rock atual pois suas raizes, de onde sofreu maior influencia, estão nos anos 60, período em que o rock não era tão pesado quanto possa parecer para nós hoje.
Às vezes, o rock chegava a aparentar o estilo pop de hoje, ou até mesmo o country norte-americano. Vale ressaltar, também, que nenhum cantor ou grupo evangélico ousou lançar um disco exclusivamente de rock, seria arriscar demais. Por isso, a maioria dos artistas só colocavam três canções de rock, no máximo, por LP. Além do trio, guitarra, baixo e bateria, havia em vários casos a presença de outros instrumentos, tais como saxofone e orgão. Os anos 70 foram marcados pelo rock progressivo e alguns cantores e grupos evangélicos foram influenciados, por esse estilo também.
Com o preconceito extremo vindo de líderes religiosos e de adeptos, o crescimento e ascensão do rock evangélico foi lento. As primeiras bandas são lembradas por conter grande influência do Tropicalismo e do rock progressivo britânico. Sua expansão se deu na década de 90, juntamente com o chamado movimento gospel. Nessa perspectiva, pode-se elencar a contribuição teórica de Néstor Canclini (1998), que nos orienta na percepção dos países periféricos como objetos tão misturados que nos sugere a necessidade de desconstruir as maneiras tradicionais de estudar o campo da cultura.
Pouco se sabe sobre rock cristão nas décadas de 50 e 60 no Brasil. Acredita-se que haviam músicos cristãos com a proposta musical jovem, “mas não chegaram a gravar nenhum disco de rock, não tendo nenhum registro no segmento durante essa época”.
Década de 1970
Selecionamos alguns nomes e músicas que foram destaque na música gospel na década de 70 seguindo o rock como referência musical. É notório que, em mais de 80% das gravações existem a presença forte do canto congregacional, corinhos, hinos da harpa cristã e do cantor cristão. No Brasil, os músicos tiveram muita influência da Jovem Guarda, que estourou no Brasil nos anos 60, principalmente os que se converteram vindo do meio secular. Outros artistas também tinham forte influência do exterior como o rock britânico, o rock americano e o o country. Versões americanas também foram gravadas já na década de 70. Comente e indique outros discos cristãos da época.
1970 – Exodos – 1970-1977
1971 – Vencedores por Cristo – Fale do Amor
1972 – Triumpho – Saudosa Mamãe
1972 – Jovens da Verdade – Drogas Matam
1972 – Antônio Carlos – Recordação
1972 – Trio Maranata – Sorria
1973 – Tenente Rubens de Oliveira – Em Glória Esplendente
1973 – Coral Jovem São Paulo — Vida
1973 – Os Ligados – Atual
1973 – Os Cantores de Cristo – Olhando o Infinito
1974 – Lula Batista – Estradas da Vida
1974 – Triumpho (Antonio José) – Plena Paz
1974 – Nicoleti – Mensagem Para Você
1975 – Conjunto Solene Som – Quero dar amor
1975 – Conjunto Estrela da Manhã – Louvai a Jesus
1975 – Josué Barbosa Lira – Amor de Deus
1975 – Wolô – O que a Lua não Pôde, não Pode e não Poderá
1975 – Nicoleti – Deus Emanuel
1975 – Ozeias de Paula – Joia infinita
1975 – Os Cantores de Cristo – Bonança
1975 – Conjunto Novo Alvorecer – Canta uma verdade de 2000 anos
1975 – Eunice – O Poder Maravilhoso do Senhor
1975 – Jovens da Verdade – Novo céu, Nova terra.
1976 – Luiz Artur – Drogas Matam
1976 – Os Atuantes – Tudo ou Nada
1976 – Conjunto Som Maior – Brilho Celeste
1976 – Conjunto Novo Alvorecer – Século XX
1976 – Darci Santos – Cristo é a minha rocha
1977 – Jorge Araujo – Modificação
1977 – Embaixadores de Sião – Jesus o Amigo da Hora
1977 – Conjunto Vasos de Bençãos – Além das Montanhas
1977 – Nicoleti – O Filho do Homem
1978 – Conjunto A Voz da Verdade – Quem é o Caminho?
1978 – Comunidade S8 – Quem Deseja Ser Criança Completo
1978 – Conjunto Som Maior – Que Diferença Faz
1978 – Enoch – Especial
1978 – Conjunto Acordes Celestes – Vida Nova
1978 – Áttila Junior – Sobre o mar
1979 – Leninha – Obrigado Jesus
1979 – Movimento Jovens Livres – Cristocêntrico
1979 – Rebanhão – Demo Tape Rebanhão (Janires)
1979 – Luiz de Carvalho – O Rei está voltando
1979 – Grupo Elo – Ouvir Dizer
1979 – Os Atuantes – Minha canção
1979 – Conjunto Vasos de Bençãos – Primavera (Jorge Araújo e Elines)
1979 – Conjunto Novo Mandamento – A love song to Jesus
1979 – Isac Sá – Povo de Deus
1979 – Quarteto Harmonia Celeste – Poder Criador
Conjunto Lírio Dos Vales – Tenho Direito de Saber (ano desconhecido)
Conjunto Novas de Esperança – O Talento do Senhor (ano desconhecido)
José Carlos Campos – Mocidade Cristã (ano desconhecido)
Conjunto Getsemane – Achei um amigo (ano desconhecido)
Conjunto Lindos Cânticos – Louvado Seja (ano desconhecido)
Com informações de: Subversivo Religiosos Musicais: Banda Êxodos e os “Galhos Secos” Raiz do Rock Gospel no Brasil “Para Nossa Alegria” de Marcos Ferreira Silva, 2014 e História da Música Evangélica no Brasil de Salvador de Souza, 2011